Jogando em fluxo de consciência

Eu conheço alguém que “conversa” – vocês já vão entender as aspas – em uma espécie de fluxo de consciência. Para os não iniciados, isso é uma técnica narrativa usada na literatura para representar como às vezes pensamos, com ideias e associações de pensamentos não exatamente concatenadas de forma direta. No texto, isso normalmente se traduz em frases mais longas, sem aderência total às regras ou ao “bom tom” sintático, com uma coisa “emendando” na outra sem parar.

Como estilo literário pode funcionar bem, mas, quando aplicado ao dia a dia, tem suas vantagens e desvantagens. É difícil acompanhar uma pessoa que fala em “fluxo de consciência”, por exemplo. Vocês já ficaram com a impressão de que alguém gosta tanto de “conversar” que não para de falar, começando a contar um causo e, de repente, quando você se dá conta, está há 10, 15 minutos ouvindo outra coisa completamente diferente, sem ter tido a menor chance de abrir a boca para dizer algo? Pois então…

Quando você percebe que a pessoa está falando exatamente como ela pensa, em vez de filtrar e concatenar as ideias na cabeça antes de expressá-las, pode ser divertido (e bem menos entediante) prestar mais atenção nos processos de associação de ideias do que naquilo que é propriamente dito. Como será que a pessoa vai de uma ida ao supermercado até o sexo dos anjos em 10 minutos ininterruptos sem que você possa perguntar quanto custou o pote de geleia que ela comprou na promoção? Se você não prestar atenção nas ligações, sua cabeça vai girar sem rumo tentando fazer sentido de tudo.

Por que eu estou falando disso? Porque acho que, de alguma forma bizarra, é assim que estou jogando coisas em 2022. Calma, eu explico.

Estamos no fim do quinto mês do ano e eu percebi que não terminei um jogo sequer do começo ao fim ainda, seja novo ou não. Não foi só Elden Ring que ainda não fechei – isso era esperado e até planejado, não estou com pressa alguma e quero explorar tudo que encontrar. Também nem cheguei na metade direito de Stranger of Paradise, Ghostwire: Tokyo ou Nobody Saves the World, só para citar alguns dos melhores jogos de 2022 que experimentei até agora. Não terminei nem Trek to Yomi no Game Pass ainda, a despeito de durar tipo umas 5 horas, se tanto.

Normalmente isso se daria por não segurar o facho e continuar comprando jogos, mas ultimamente não é o caso. Na real, eu continuo na minha “jornada pessoal” de parar de comprar por preço cheio coisas que eu sei que ainda não vou jogar. É por isso que ainda não peguei Horizon: Forbidden West, Monark, Kirby and the Forgotten Land e Rogue Legacy 2, entre outros. Só esses dias peguei Dying Light 2 – que começa maravilhosamente bem, aliás – e só porque estava em uma bela promoção.

Parte desses “atrasos” tem a ver com outros fatores, incluindo esperar a correção de bugs iniciais (DL 2) ou patches prometidos de melhoria de desempenho (Stranger of Paradise). Mas não é isso exatamente. Eu ando numa onda forte de revisitar jogos antigos ou finalmente jogar coisas do backlog, mas também não terminei nenhum deles do começo ao fim. No geral, os únicos jogos que terminei este ano foram aqueles que retomei em estágios bem avançados, como Demon’s Souls Remake e Dark Souls Remastered. Pois é – desde o artigo linkado, não terminei nem Dark Souls II ainda. Pelo contrário: iniciei um novo run de Bloodborne baseado em armas de fogo e ainda estou no Pesadelo de Mensis, mesmo seguindo guias de “otimização” de builds.

A verdade é que eu estou numa onda de jogar o que der na telha, quando der na telha. A lista de jogos que eu (re)instalei e abri para jogar por pelo menos algumas horas em 2022 é imensa. Além de todos os já citados, ela inclui Cyberpunk 2077 (nova jogada pós-upgrade para PS5), Deus Ex: Mankind Divided (versão a 60 fps no Xbox), Far Cry 6 (recém-comprado), Fallout: New Vegas, Final Fantasy XIV Online (parei no meio de Stormblood), Injustice 2, a demo do novo Kirby, Mafia Definitive Edition, Persona 4 Arena Ultimax, Resident Evil IV (PC), Salt and Sanctuary e Vampire: the Masquerade – Bloodhunt (bem ocasionalmente).

Isso tudo sem contar a quantidade de jogos que lembrei por algum motivo e reinstalei com a intenção de testá-los ou finalmente jogá-los para valer, como The Caligula Effect: Overdose, Control Ultimate Edition (não joguei o DLC de Alan Wake inteiro ainda), Devil May Cry V Deluxe (ainda não tinha os complementos dessa versão), Prey, The Sinking City (PS5) e Spongebob Squarepants: Battle for Bikini Bottom, ou ainda as demos/versões Game Pass de Deadcraft, Source of Madness, Thymesia, Tunic e Weird West.

Ah, e estou “farmando” coisas após o fim da história completa de Monster Hunter Rise no PC, em preparação para a expansão Sunbreak mês que vem. Esse eu tecnicamente terminei do início ao fim em 2022, mas como é um port de um jogo que já tinha fechado com sobras no Switch ano passado, nem conta direito. Eu só queria “migrar” de vez pro PC logo.

Se vocês estranharam por que eu não ando destrinchando mais jogos aqui no novo blog este ano, agora já sabem o porquê. Eu simplesmente entrei no meu próprio modo de “fluxo de consciência” e… olha, não estou nem um pouco preocupado em sair dele. De vez em quando dá uma vontadezinha de tentar me concentrar em alguma coisa, mas logo passa. Estou me divertindo bastante fazendo referências cruzadas mentais entre todos esses jogos completamente distintos. E, ainda por cima, minha carteira agradece.

O “modo fluxo” também favorece minha vontade de ler, assistir, ouvir mais do que apenas jogos, então está tudo “ótemo”. Essas coisas são a razão de ser desse novo blog de qualquer forma. É engraçado inclusive pela sinergia. Eu comecei a assistir The Sopranos de novo, emendei com O Poderoso Chefão e Scarface e adivinhem só? Foi daí que veio Mafia Definitive Edition, que havia comprado em promoção há alguns meses e nem aberto ainda, e agora é um dos maiores candidatos acima a serem finalizados em breve. Até peguei a “Trilogia Definitiva” de Grand Theft Auto para Xbox por uma ninharia, já que nunca joguei Vice City e, segundo o Digital Foundry, os jogos estão com desempenho bem mais estável agora, após toneladas de patches.

Os meses e anos passam e não estou ficando mais jovem, mas, ao mesmo tempo, o que faço quando estou livre ficou ainda mais precioso. Terminar coisas apenas porque sim não pode mais ser prioridade. Aproveitar o momento e fazer o que der na telha é essencial para manter a cabeça fria e relaxada, além de permitir que escreva aqui quando bem entender em vez de ficar na pira de cumprir uma “cota” de coisas novas até um prazo arbitrário. Se isso redunda em jogo em “fluxo de consciência”, que seja: basta prestar atenção nos processos de associação. Pode render até alguns artigos… Como esse aqui mesmo. Recomendo fortemente, pode ser uma experiência até meio libertadora.

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