O melhor da velocidade (por enquanto)

OK. Depois do último artigo sobre minha obsessão com jogos de corrida/carros, a intenção era abordar uma série de aspectos do gênero e o estado atual das coisas nele. Mecânicas que perduram ou que precisam voltar; enganos que tais jogos evitavam antes e cometem hoje (ou vice-versa, até); o que o gênero precisa fazer para voltar a ser tão popular quanto era, e assim por diante.

Porém, eu não ando com esse tempo todo, então vamos começar mesmo por algo mais simples e, ainda assim, necessário: os jogos que me deixaram mais feliz nessa jornada… Bom, pelo menos até agora. Claro que eu não joguei o suficiente de tudo naquela lista xigante do artigo anterior. Nem de perto – vai demorar o ano inteiro para isso acontecer. O jeito é soltar essa lista abaixo e ir atualizando-a conforme necessário. Paciência, gafanhoto.

A lista começa com 10 entradas, mas eu me darei o direito de aumentar para 15 ou 20 conforme for jogando (bem) mais coisas. Com mais de 80 90 100 120 jogos à disposição para escolher, é justo não me prender a apenas 10 no final de tudo. Também há mais jogos para entrar na base toda quando desencavar/consertar consoles antigos como o Xbox 360 ou o PS2 – não posso deixar de (re)conferir clássicos como Project Gotham Racing 4, Forza Motorsport 3 ou Gran Turismo 4, por exemplo. Enquanto isso não acontece, vou com os nomes abaixo mesmo. São os seguintes, em ordem alfabética:


Blur

Taí um exemplo perfeito de jogo em que ser reducionista atrapalha, e muito. À primeira vista, Blur pode parecer uma espécie de Need for Speed semifuturista com power-ups de jogo de kart. O negócio é que… (a) é um baita de um Need futurista, e (b) os power-ups não são aleatórios, e sim posicionados sempre nos mesmos lugares das pistas. Isso quer dizer que Blur não tem nada de jogo de party, e sim é uma bela fórmula nova e única para jogo de corrida arcade, mais estratégico e ainda exigindo muita habilidade de direção e conhecimento da pista. O resultado final é que é divertido pra cacete sem ter metade da frustação. Ah, e a versão de PC escala muito bem ainda hoje, batendo muito jogo moderno em termos visuais. Pena que não está mais à venda… Nada que uma viagem aos sete mares não resolva, é claro.


Burnout Paradise Remastered

É lógico que, depois de surtar em jogo de corrida, eu iria voltar a Burnout Paradise. Para começar, não tinha terminado-o ainda na versão Remastered no PS4 – algo já resolvido agora, muito obrigado, só faltando chegar aos 100%. Para “segundar”, aproveitei uma promo forte no Switch e peguei o jogo lá, onde surpreendentemente também roda a 60 fps. E, para terminar, é Burnout Paradise, pô. Uma das melhores trilhas sonoras licenciadas de qualquer jogo, um senso de velocidade ainda inigualado, e um mundo aberto estilo “nunca pare de correr” que foi parâmetro para esse tipo de jogo até a chegada de Forza Horizon 2. Mesmo jogando também Burnout Revenge na retrocompatibilidade do Series X, Paradise ainda não tem comparação… Os saudosistas que me desculpem. Como que esse jogo nunca teve uma sequência é algo que escapa à minha compreensão até hoje. Afinal, ele vendeu bem e ainda é a escolha para quem pensar em jogar um ou dois títulos de corrida que seja na vida.


Dirt 3 Complete Edition

O jogador mais casual pode não saber, mas tem jogo de corrida em terra/rally saindo pelo ladrão por aí – desde os tempos de Sega Rally até Richard Burns Rally, Sébastien Loeb EVO, WRC (o campeonato oficial), Dakar, Art of Rally, FlatOut, Gravel… Isso sem contar os de motocross. Agora, nenhum deles me prendeu tanto quanto Dirt 3. Um dos motivos talvez seja porque a série ainda não tinha se dividido com o simulador Dirt Rally, o que significa que o terceiro jogo inclui tanto rally tradicional quanto vários outros tipos de corrida na terra, tudo com uma física um pouco mais arcade. Dirt 5 pode até ser um jogo melhor em alguns aspectos, como apresentação/visual ou simulação de diferentes terrenos/superfícies, mas essa abrangência maior que a série tinha antes faz toda a diferença. Além do mais, talvez você fique surpreso com como um jogo originalmente da era PS360 ainda parece atual quando maximizado no PC. Sério, dá uma olhada. No mínimo os modelos dos carros são comparáveis aos de qualquer jogo atual, tranquilamente.


Driver San Francisco

É impressionante como se fala de San Francisco até hoje com toda a admiração do mundo – e, depois de terminá-lo mais uma vez (Terceira? Quarta? Já perdi as contas), eu entendo perfeitamente. Cabe aqui o velho clichê “envelheceu como vinho”, tudo graças à pura criatividade que o jogo teve. Vejam, poucos títulos do gênero conseguem implementar uma mecânica inédita tão central à jogabilidade como esse Driver fez: o shift, ou poder “flutuar” sobre a cidade e trocar de carro/piloto quase instantaneamente, mesmo durante corridas e missões. Não à toa, já vi chamarem-no de jogo de “direção” em vez de “corrida”, já que você pode vencer corridas “possuindo” carros no tráfego e usando-os para destruir seus concorrentes, por exemplo. Cada vez que eu jogo San Francisco, descubro uma ou duas possibilidades novas, tudo graças à sua mecânica única. Além do mais, se existe um jogo de corrida com uma história boa, é esse, ponto final. Uma, inclusive, superbem integrada à atmosfera geral retrô-setentista, bem apresentada pelo filtro amarelado/sépia e a excelente trilha sonora. Um pacote completo de arte, diversão e inovação como pouco se vê em qualquer gênero de jogos.


F1 2020

Acho que eu nunca mencionei isso em nenhum blog, mas na verdade eu já fui fã de Fórmula 1 o bastante (na era Senna/Piquet/Prost, claro) a ponto de arranjar PC bom o suficiente para jogar títulos clássicos do gênero como Gran Prix 3. Uns bons anos depois, quando eu topei com um volante para PlayStation a bom preço, ele veio com F1 2016 no pacote. Desde então, eu sempre pensei em voltar à série, e acho que escolhi o melhor momento: tirando um pouco de decepção com a versão 2022, a Codemasters parece estar no auge desses jogos. As edições 2019 a 2021 são frequentemente escolhidas como as melhores e eu arranjei todas. Como a 2019 dá um pau ou outro no PC e não tenho volante pra plataforma, estou indo na 2020 primeiro… E realmente é pura alegria para quem curte o esporte. Criar sua própria equipe e piloto, gerenciar desde instalações até desenvolvimento de melhorias de carro, lidar com a imprensa, com orçamento, com rivalidades… E, claro, pilotar as máquinas mais rápidas e letais do automobilismo, tudo com trocentas assistências que acomodam qualquer um (eu fico ali na meiúca nisso, como sempre). Não tem experiência igual.


Forza Motorsport 6

Por mais que eu adore Forza Horizon, o megasucesso desse spin-off causou um efeito tenebroso: o sumiço de Motorsport. Hoje em dia, aliás, nenhum deles está disponível – nem sequer o mais recente, o sétimo. Sério. Para piorar, mesmo que você tenha os clássicos 3 e 4 para Xbox 360, eles não são retrocompatíveis no One/Series X. E isso é um acinte porque, vejam, um dia Motorsport foi um concorrente sério de Gran Turismo, um que só fez bem tanto ao PlayStation quanto à Microsoft. Enquanto o novo jogo (reboot?) não vem este ano, o melhor que pude fazer foi escolher entre o quinto e o sexto, cujas versões de Xbox One ainda tenho, e fui de Motorsport 6 por ter sido bem melhor recebido – e com razão, por ser mais completo e sem o jeitão “apressado para lançamento do console” do anterior. Além do mais, nunca tinha terminado-o e essa era a chance. Os destaques vão para as pistas – as do Rio de Janeiro e de Praga em especial são embasbacantes até hoje – e para os diversos modos e eventos extras típicos da série que finalmente retornam aqui, como boliche, corridas com carros antigos, slalom e afins.


Gran Turismo 7

Olha. Gamers-cabeça podem não gostar de ler isso, mas a verdade é que, em uma série como Gran Turismo, avanço gráfico-tecnológico importa sim, e muito. É um jogo de colecionar carros primeiro e usá-los em eventos de circuito depois, então não tem para onde fugir disso. Eu joguei sim um tanto dos clássicos de PS2 antes, e pretendo terminá-los agora, mas é difícil não se maravilhar com o manuseio das máquinas, o detalhamento das pistas, a finesse das carrocerias etc. agora que chegamos aos 4K/60 fps do PS5. Ajuda ainda mais que a progressão de Gran Turismo 7 talvez seja a mais intuitiva da série, organizada em “cardápios” em uma cafeteria chique para amantes de carros. Mesma coisa com a customização/tunagem: o jogo me fez pesquisar e ajustar até os mais finos detalhes, coisa que nunca fazia em jogos desses. Claro, ainda há os problemas do jogo ser sempre online e o grind de repetir eventos para evitar gastar dinheiro real, mas, depois da adição de corridas com prêmios altos em updates, a coisa ficou bem mais manejável, e os servidores do jogo não serão desligados por anos (os de Sport ainda não foram, afinal). Mal pagando 100 contos por ele, fica mais fácil digerir o fato de que parte do (excelente) conteúdo sumirá no futuro distante.


Grid Legends

Essa talvez tenha sido a maior boa surpresa dessa lista, mesmo além do jogo seguinte, que deu a partida em toda essa minha nova sanha por velocidade. Eu sempre tive o Grid original no Steam, mas só comecei a jogá-lo para valer agora e… rapidamente ele se tornou um dos meus jogos de corrida preferidos de todos os tempos. Aí, por uma coincidência enorme, a PSN Plus deu Legends na mesma época e… Olha, é basicamente o primeiro jogo muito modernizado, no melhor sentido possível. Tudo volta melhorado e bastante expandido. Até o modo história com cenas live action, que parecia meio forçado na época do anúncio do jogo, foi bem divertido e envolvente em sua estrutura de documentário/série de entrevistas, emprestando um contexto e um charme meio tosco para os eventos e desafios de campanha. Além do mais, a pura variedade de disciplinas de corrida, veículos e possibilidades no modo Carreira está me prendendo há semanas e não estou nem perto de completá-lo 100%. O jogo também quase rivaliza com Driveclub nos efeitos de clima, algo que todos os jogos de corrida perseguem desde então, e tem um modo de edição de eventos bem robusto. Enfim, tudo funciona nesse jogo. É um crime que passe batido.


Need for Speed: Unbound

Isso será assunto para outro artigo dessa série no futuro, mas… Quanto mais eu jogo títulos de corrida modernos, mais me convenço de que olhamos para a “era de ouro” do gênero no PS2 com um belo de um viés nostálgico que esconde mais imperfeições do que filtro de Instagram e autotune na voz de cantora ruim. Claro que alguns Need for Speed recentes vacilaram sim em certos aspectos, como a progressão por cartas-loot boxes de Payback ou Most Wanted (2012) ser basicamente Burnout Paradise Lite com outro nome, mas isso não quer dizer que tudo depois de Carbon seja descartável. Unbound, por exemplo, tem o maior “senso de perigo” que já experimentei em um jogo da série, a ponto de não tê-lo terminado ainda porque o sistema de dia/noite com risco de perder dinheiro para a polícia às vezes me deixa tenso de jogá-lo. De resto, esse jogo é tranquilamente o que mais recapturou a essência dos Need for Speed clássicos (com a possível exceção de Heat, que ainda não joguei). É bonito pra porra, tem um monte de coisa pra achar no mapa, a customização está ótima, inclui uma mecânica legal inédita de nitro burst, o estilo grafite-street o diferencia de todos os outros jogos de corrida modernos… Talvez vire meu jogo preferido da série até. Veremos depois que terminar Underground 2 também.


Wreckfest

Para encerrar, outra ótima surpresa dessa jornada, embora talvez menos pronunciada porque se trata de um dos jogos de corrida mais aclamados dos últimos anos. Talvez você nunca tenha ouvido falar de Wreckfest ou de seus predecessores espirituais, a série FlatOut, mas pesquisa aí que você vai ver. E é por ótimos motivos. Para começar, não se trata apenas de um jogo de corrida em terra ou de destruição de carros, e sim um perfeito meio-termo entre os dois com uma das modelagens de dano mais impressionantes da indústria. Segundo, tem as pistas e eventos mais malucos do setor também, incluindo desde corrida de sofá motorizado (sério mesmo) até demolition derby de cortador de grama (sério mesmo [2]). E isso só de início. No final do modo Carreira, teve evento em que eu fui o único a sequer chegar ao final da corrida, com o carro menos de 20% inteiro e todos os outros 23 oponentes dando perda total graças aos saltos e obstáculos da pista (sério mesmo [3]). E no meio disso tudo, você ainda tem sim que saber fazer traçado direito, aprimorar e tunar seus possantes de ferro-velho para vencer. Wreckfest é uma joia rara, um jogo de corrida quase perfeito que só não explodiu porque, bem, é sobre uma disciplina bem específica/menos mainstream chamada “folk racing“. Merece muito, mas muito mais atenção.


Os mais atentos podem ter reparado no seguinte: os quatro primeiros títulos são da era PS360, enquanto os outros seis são todos posteriores, de PS4/Xbox One em diante. “Quedê” os tais clássicos da “era de ouro” (PS2) que mencionei no artigo anterior? Nem unzinho aqui nessa lista? Bom, já adiantei com Unbound que isso será assunto para outro artigo. Talvez eu ainda precise (re-)explorar melhor esses clássicos, para além do primeiro Need for Speed Underground (o segundo parece ser melhor, afinal). Até tirei a poeira virtual dos meus emuladores e mandei meu Xbox 360 para conserto por conta disso. Vamos ver o que acontece.


Bônus importante: Test Drive Unlimited 2 > Forza Horizon 1-5 > The Crew 1-2

A lista acima pode não ter nenhum Forza Horizon, mas saibam que já re-terminei o primeiro, a expansão standalone de Velozes e Furiosos (sim, baseada nos filmes) e estou no meio do segundo jogo, além de ter terminado a expansão Hot Wheels e estar no meio da de rally de Horizon 5. Também mergulhei em The Crew 2 com muita força, chegando até a pegar e terminar dois Motor Passes (com dinheiro ingame, claro) – logo eu, que nunca fui de mexer com Passes de Batalha e congêneres. Esse tipo de jogo de mundo aberto com liberdade extrema sempre vai me prender um tanto quando resolver jogar qualquer coisa de corrida, ainda mais com a pura excelência técnica e de design da série Horizon e a variedade extrema de disciplinas em The Crew.

Por que eles não estão na lista então? Bom, primeiro porque são hors-concours no que fazem. Segundo porque, embora sejam ótimos, ainda são meio representativos de tendências que amarram um pouco demais o gênero, que virou refém de mundo aberto e sistemas de RPG, pelo menos entre o grande público. Terceiro e mais importante: eles devem as calças, a camisa, os sapatos, as cuecas e tudo mais a Test Drive Unlimited – e mesmo assim ainda estão correndo atrás de recursos que este tinha e não foram resgatados. De verdade. Eu já tinha lido sobre isso mais de uma vez, mas experimentar por conta própria foi meio chocante ainda assim.

Não que Test Drive Unlimited tenha sido o primeiríssimo jogo de corrida a incluir tudo que vou listar, mas foi o primeiro a reunir essas coisas em um pacote abrangente assim. Vamos lá… Mundo aberto não preso a estradas, onde você pode dirigir realmente em qualquer lugar? Check. Vibe de evento social multijogador? Check. Sistema de recompensa para quando você faz drift, tira fina etc. no mundo aberto? Check. Sua casa própria para exibir seus possantes? Check – e você pode ter várias e convidar amigos para visitá-las, algo que Horizon e The Crew ainda não fizeram. Desafios criados e compartilhados por jogadores? Check. Customização de avatar, incluindo roupas, e das casas em si? Check. E tem bem mais detalhes assim, mas não posso ficar o artigo inteiro só no assunto. Lembrem-se: o original era um jogo de PS2 e o segundo, de PS3, e já tinham tudo isso.

Peraí… Então porque Unlimited 2 não entrou na lista, então? Pelo velho problema de jogos cult com muito mais ambição do que orçamento ou excelência técnica. Partes dele não eram as mais refinadas já na época e envelheceram mal. Por exemplo, o mais importante de um jogo de corrida, o manuseio dos carros, é bem marromenos, a ponto de ter ganho rebalanceamento de fãs no PC – e mesmo assim não ficou dos melhores. Os desenvolvedores sabiam disso e deixaram a imensa maioria dos eventos bem, bem fácil como forma de compensar. A versão de Unlimited 2 no PS3 é estupidamente borrada e parece rodar a 20 quadros por segundo a maior parte do tempo. O jogo saiu com problemas de conexão/servidor que duraram meses e tem bugs e crashes até hoje, mesmo depois de patches de fãs. E por aí vai.

Ainda assim, é um prazer de jogar, tem um charme “brejeiro” em seus personagens caricatos e cutscenes, e passa uma sensação de “simulador de riquinho no Havaí/em Ibiza” que nenhum outro título oferece, nem mesmo a série Forza Horizon. O que só me deixa dez vezes mais “hypado” para Test Drive Unlimited: Solar Crown, que deve sair este ano. A popularidade de The Crew 2 e Horizon provou que a ambição da equipe de Unlimited era justificada, e espero que Solar Crown recapture pelo menos uma parte desse espírito, mesmo que não vá repetir alguns dos recursos dos anteriores exatamente como eram (as casas serão substituídas por quartos cada vez melhores em um hotel chique, por exemplo). Fica a torcida aqui; a indústria precisa que Solar Crown seja bom.

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